Os Bessa e a Bessa

O mês de janeiro de 2020 foi um mês muito triste pra mim. Eu estava de luto pela morte recente de meu único irmão. Foram anos de tratamento e sofrimento com altos e baixos, sendo que os últimos meses sempre são os mais difíceis para todos que enfrentam uma doença tão severa como o câncer.

Como nesta época eu estava precisando muito me reconectar (e sempre tive na natureza um refúgio e uma fonte de restauração das forças), foi bastante aventurado o convite de meu amigo de Petrópolis, Paulo Victor, para ir até Macaé de Cima, uma região de natureza exuberante que fica a poucos km’s de Nova Friburgo. O motivo da viagem era o aniversário de 70 anos de outro Paulo, de sobrenome Bessa.

 

 

 

OS BESSA

Ficamos acampados no quintal do sítio dos Bessa, um casal sem filhos e de muita cultura. De cara já me identifiquei com eles e conversamos muito. A Sandra é professora de uma escola próxima e o Paulo fabrica queijos com receitas próprias que vende nos arredores.

Na noite de seu aniversário, Paulo abriu seu baú de memórias e compartilhou sua coleção de fotografias antigas conosco, a maioria de parentes e amigos. No mesmo baú estava guardada sua antiga câmera, uma Voigtlander Bessa I, com as marcas de quem não via a luz do dia há muitas décadas.

Bebemos vinho, rimos e recordamos o passado de cada um. Frente a minha empolgação com as fotos de seu museu, decidiu me presentear com uma foto de uma desconhecida feita pelo famoso estúdio do Otto Hees de Petrópolis. Fiquei muito agradecido, mas, com tão pouco tempo de amizade entre a gente, também um pouco sem jeito de aceitar.

No outro dia, tendo a chuva dado uma trégua, saímos para conhecer um pouco da região, que dispensa comentários sobre sua beleza natural. Mais uma oportunidade excepcional de conhecimento e aprendizado.

Enfim, partimos para a propriedade de meu amigo Paulo Victor, que era próxima. Como o telhado da casa estava avariado pelo mau tempo, novamente acampamos no quintal. O ponto positivo é que o céu sem lua foi o mais bonito da viagem.

No retorno para Petrópolis, paramos para almoçar em Lumiar antes de seguir para Nova Friburgo e, na sequência, Petrópolis.

Uma viagem inesquecível, pois, apesar da chuva constante que caía, os dias que passamos na região foram muito agradáveis.

 

 

A BESSA

A segunda parte desta história aconteceu alguns meses depois, de volta a Franca, quando chegou pra mim uma mensagem do Paulo Bessa, perguntando se eu gostaria de ficar com a câmera dele, pois seria muito mais útil pra mim, que trabalho com isso, que pra ele. Aceitei de primeira e disse que estava muito honrado e faria bom uso do equipamento. Algum tempo depois a câmera chegou em minhas mãos. Ao desmontar e limpar, vi que o mecanismo da objetiva estava funcionando perfeitamente, com todas velocidades e aberturas corretas, não havendo sinal de buracos no fole. Os únicos problemas eram sujeira e uma ou outra ferrugem.

Esta câmera usa filme 120 e produz imagens de tamanho 6x9cm ou 6×4,5 através de uma máscara, que infelizmente não existe mais. 6×9 é o maior formato de negativo ao qual tenho acesso no momento. A imagem fica imensa, com uma riqueza de detalhes gigante.

A Bessa 1 agora faz parte da minha família de câmeras e tem um lugar especial, cheia de lembranças boas que trazem um simbolismo de cura e renascimento.

 

essa é a Bessa I depois da limpeza…

…e essa é a primeira foto que fiz com ela, ainda estava vazando um pouco de luz, mas o problema já foi resolvido.

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